“Ela chorava. Ele sorria. Ela odiava seu sorriso. Ele nem ligava. Ela encontrava um novo defeito em si a cada dia. E ele achava que tudo estava muito bom. Pra ela o tempo era uma eternidade. E ele não tinha tempo pra fazer nada, tudo passava na velocidade da luz. Ela achava que era ele, e acreditava que seria pra sempre. Ele não acreditava no amor. Ela sonhava com o dia em que ele diria que a ama. Ele não sabia o que era amor. Ela chora por ele. E ele nem sequer notou.”

Letícia Nogara. (via leticianogara)

“Não se importe. Não tente. Não procure. Não faça. Não fale. Não sinta.”

“Não se importe. Não tente. Não procure. Não faça. Não fale. Não sinta.”

E com as mãos, uma em cada lado do crânio, ela repetia. ”Não se importe. Não tente. Não procure. Não faça. Não fale. Não sinta.” De novo, e de novo, e de novo. Mais uma vez, que é para dar certo. ”Não se importe. Não tente. Não procure. Não faça. Não fale. Não sinta.” Se convencendo aos poucos, se entendendo, aceitando, fazendo. ”Não se importe. Não tente. Não procure. Não faça. Não fale. Não sinta.” Fria, frio, gelado. Vai ficar tudo bem. Nada vai sentir. Nada mais existe. ”Não se importe. Não tente. Não procure. Não faça. Não fale. Não sinta.” Um pouco de existência fútil até o próximo objetivo aparecer. Ouça porque há música alta lá fora. Uma garrafa de álcool e um maço de cigarro. Repita. ”Não se importe. Não tente. Não procure. Não faça. Não fale. Não sinta.” E vai passar. Vai acabar. Como tudo acaba. A vida acaba um dia também. Então repita mais uma vez para si mesma, e entenda. Absorva as palavras e entenda. ”Não se importe. Não tente. Não procure. Não faça. Não fale. Não sinta.”

Tati Bernardi

Tati Bernardi

Dessa vez, com  você, eu queria que desse certo. Que eu não te largasse no altar. Que eu não te visse com outra. Que eu não tivesse raiva. Que você não passasse a comer de boca aberta. Que você entendesse o meu problema com chãos de banheiro molhados pra sempre. Que você gostasse e cuidasse de mim como disse ontem à noite que cuidará. Eu quero que dê certo, não estraga, por favor. Não estraga não estraga não estraga.

 

Caio F. Abreu

Caio F. Abreu

— Daí que a vida da moça foi ficando um inferno. Ela não pensava noutra coisa o dia inteiro. Só no amor que sentia. Pensava no amor que sentia pelo príncipe o dia inteiro, nem comia mais direito, nem dormia, nem trabalhava nem nada (…) Passava o ano todo esperando o príncipe vir de férias. Mas quando ele vinha, a moça ficava ainda mais triste.
— Por quê, hein?
— Porque ela via ele todos os dias.
— Ué, mas não era então pra ela ficar alegre em vez de triste?
— Não, porque o príncipe não ligava mesmo pra ela.