Perdoa?

Perdoa?

Perdoa o drama, tá? Perdoa a pressa e meu eterno jeito desajeitado. Perdoa também os clichês e as mensagens cafonas. Diz que perdoa minha vida toda confusa, atrapalhada e chata que eu ainda quero dividir contigo. Me perdoa pelas repetições, insinuações e continuações de histórias que ninguém quer saber. Perdoa as vezes que eu não te ligo ou as que ligo e quero falar sobre o jogo de ontem, sobre o azul do céu ou sobre as ondas da Indonésia. Perdoa minha tagarelice incurável. Perdoa a chuva, meus vizinhos e meu medo inconveniente. Perdoa pelos pés que nunca tocam o chão e a mente avoada. Perdoa a fala rápida. Perdoa essa minha rotina chata e meu sono que sempre vem cedo. Perdoa as vezes que não quis abraço só pra você ir embora rápido. E depois ficar pensando como seria se você tivesse ficado um pouquinho mais. Me perdoa pelas incertezas e pela insegurança que escondo tão bem. Perdoa o decote, a independência e aquele bando de garotos sem importância alguma. Diz que me perdoa por ficar sempre na sua cabeça e fazer você dormir tarde da noite. Perdoa a risada alta e descontrolada. Perdoa a surdez e a cegueira e desde já perdoa isso daqui uns anos, por que imagine quando ficar velha. Ah, perdoa se eu trabalhar demais e não conseguir deitar contigo pra ver o céu estrelado da nossa varanda, do nosso sobradinho branco, de frente pro mar de Floripa. Perdoa minhas náuseas quando velejarmos. Perdoa todas as vezes que te chamei de chato e mesmo que você fosse ia ser o “meu chato”. Perdoa minha chatice e minha breguice. Perdoa a infantilidade e o jeito de menina que quer ser moça. Perdoa meu eterno mal gosto musical. E já perdoa precocemente os domingos que a casa ficará cheia samba. Perdoa os cafés aguados que eu vou fazer, o arroz que vou queimar ou o feijão que eu salgar, um dia aprendo. Perdoa a falta de delicadeza e a frieza. Perdoa a mania que eu tenho de achar que precisamos de um tempo. Na verdade ando precisando de todo o tempo do mundo, com você. Perdoa quando deixei você ir dormir sem dizer que te amo. Perdoa o orgulho. Perdoa a minha ignorância. Perdoa as vezes que te magoei, te enganei e me omiti. Perdoa o mal jeito. Só quero seu bem, tá bem?

– Nathalia Lopes